Espaço para quem? Quando o espaço público prioriza poucos e ignora muitos

Você já parou para observar como o espaço público é dividido nas nossas cidades?

Na última segunda-feira, em um fim de tarde tranquilo, decidi registrar um trecho que conheço bem: o caminho que conecta o Parque Marinha do Brasil à Orla do Guaíba, próximo ao velódromo, em Porto Alegre. Mesmo em um dia calmo, sem grandes eventos ou o movimento típico de fim de semana, o que vi ali me fez refletir: pedestres, ciclistas, usuários de patinetes e vendedores disputam uma faixa estreita e compartilhada, enquanto os carros reinam absolutos, com um estacionamento que ocupa uma área desproporcionalmente grande.

Nas fotos que tirei, a realidade fica evidente: uma ciclovia e um espaço para pedestres limitados que tentam atender a todos. O espaço é tão limitado que muitas pessoas acabam consumindo seus lanches em cima da própria ciclovia, gerando conflitos entre os diferentes usos. A segurança de quem pedala ou caminha fica comprometida, e o convívio, que deveria ser o foco de um lugar como esse, vira um desafio.

Espaço compartilhado entre ciclistas, pedestres e vendedores

Para ilustrar essa disparidade, criei um mapa simples. De um lado, ele mostra a distribuição dos espaços: uma faixa mínima para pedestres, ciclistas e vendedores; do outro, uma sobreposição com uma imagem de satélite revela a triste verdade. O estacionamento dos carros ocupa cerca de dez vezes mais área do que o espaço dedicado às pessoas. Dez vezes! Será que precisamos mesmo destinar tanto espaço aos automóveis, especialmente em uma região que poderia ser um ponto de lazer e convivência?

No mapa à esquerda, a distribuição dos espaços para pedestres, ciclistas e comerciantes (em cores) e o estacionamento (em cinza). À direita, a mesma área sobreposta a uma imagem de satélite, mostrando a desproporção.

Imagina só: e se algumas vagas de estacionamento fossem removidas? Com esse espaço, poderíamos criar uma área digna para os comerciantes venderem e as pessoas consumirem seus alimentos, uma ciclovia funcional sem obstáculos e um caminho mais amplo para os pedestres fazerem a transição do parque à orla. Pequenas mudanças como essas poderiam transformar o local em um ambiente seguro, acessível e convidativo. Afinal, por que priorizar os carros em um espaço que deveria ser feito para as pessoas?

Outra cena reforça essa ideia. Uma faixa de pedestres, uma estação de bicicletas compartilhadas e uma ciclovia espremidas dividem espaço com os espaços para alimentação. Os comerciantes tentam criar um clima de convivência, mas a área é tão restrita que mal dá para circular. Enquanto isso, ao lado, os carros seguem ocupando uma grande área, como se fossem os verdadeiros donos do lugar.

Espaço para alimentação e bicicletas compartilhadas

Abaixo, agrupei algumas imagens que mostram diferentes ângulos e momentos desse mesmo trecho, destacando a convivência entre as pessoas e a presença constante dos carros ao fundo:

Quero deixar claro: minha crítica não é aos vendedores, ciclistas, usuários de patinetes ou pedestres — eles fazem o melhor que podem com o que têm. O problema está na priorização excessiva dos carros. Será que essa distribuição do espaço urbano realmente atende à maioria da população? A mobilidade sustentável e o convívio no espaço público não deveriam ser as verdadeiras prioridades no planejamento das cidades?

Essa experiência me fez pensar no futuro que queremos para nossas cidades. Espaços públicos mais inclusivos e humanos não só elevam a qualidade de vida, mas também promovem um convívio mais harmonioso e sustentável. Pequenas mudanças, como repensar o domínio dos carros, podem fazer uma diferença enorme.

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