A mobilidade por ciclos, termo oficial utilizado pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) para englobar bicicletas, triciclos, cargobikes e outros veículos de propulsão humana, é parte fundamental de cidades mais seguras, eficientes e sustentáveis. Para que mais pessoas se sintam incentivadas a utilizar modos ativos, é essencial que a infraestrutura destinada aos ciclos seja planejada com critérios técnicos e conectada ao cotidiano real dos deslocamentos urbanos.
A seguir apresento um panorama completo dos principais tipos de infraestrutura cicloviária utilizados no Brasil, além de princípios gerais que tornam uma rede eficaz, coerente e segura.
Tipos de Infraestrutura Cicloviária
Ciclovia
A ciclovia é um espaço exclusivo para a circulação de ciclos, separado fisicamente do tráfego motorizado. Essa separação pode ocorrer por meio de canteiros, barreiras, meio-fio, blocos ou outros elementos de segregação.
Características principais:
• maior proteção e segurança
• redução de conflitos com veículos motorizados
• indicada para vias com maiores velocidades ou fluxos intensos
• pode ser bidirecional ou unidirecional

Ciclofaixa
A ciclofaixa é uma parte da pista existente destinada exclusivamente aos ciclos, delimitada por sinalização horizontal, como pintura e pictogramas. Não exige separação física obrigatória.
Características:
• custo mais baixo de implantação
• organização do espaço e previsibilidade de fluxos
• adequada para vias de velocidade moderada
• exige largura mínima e boa legibilidade

Ciclorrota
A ciclorrota é uma via compartilhada entre ciclos e veículos motorizados, marcada por sinalização indicando que aquela rota é recomendada para quem utiliza ciclos.
Características:
• não possui faixa exclusiva
• depende de moderação de velocidade
• indicada para vias locais e de menor fluxo
• solução útil para conexões onde não há espaço para ciclovias ou ciclofaixas

Fonte da Imagem: GaúchaZH – ‘Novos bicicletários e conexão entre as vias: os planos da prefeitura para a rede cicloviária de Porto Alegre’, 22 mar 2023.”
Espaço compartilhado
Espaço onde pedestres e ciclos dividem o mesmo ambiente, normalmente com velocidades muito reduzidas e foco na convivência.
Características:
• comum em parques, praças e calçadões
• prioridade ao usuário mais vulnerável
• ideal para áreas de lazer e circulação local
• exige sinalização adequada e desenho urbano que favoreça o caminhar

O que torna uma Rede Cicloviária eficiente
Percursos Lineares
• Menos paradas e interseções;
• Trajetos diretos e eficientes;
• Redução de desvios desnecessários.
Percursos Seguros
• Redução de velocidade em pontos de conflito;
• Separação adequada entre tipos de veículos quando há grandes diferenças de fluxo e velocidade;
• Soluções específicas para cada tipo de via;
• Priorização dos usuários mais vulneráveis.
Rede Coerente
• Rotas contínuas, sem interrupções;
• Conexão com linhas de desejo reais da população;
• Integração com centralidades, bairros e polos geradores de viagem;
• Conectividade com o transporte público coletivo.
Percursos Atrativos
• Presença de destinos variados ao longo da rota;
• Alta densidade de atividades e serviços;
• Trajetos que correspondem às necessidades diárias das pessoas.
Percursos Confortáveis
• Sinalização clara e orientações de destino;
• Rede de fácil compreensão;
• Arborização, sombra, locais de descanso e amenidades;
• Boa qualidade de pavimento e acessibilidade.

A importância da manutenção da infraestrutura cicloviária
A qualidade da experiência de quem utiliza ciclos não depende apenas do projeto e da implantação da infraestrutura, mas também da sua conservação ao longo do tempo. Manutenção adequada é essencial para garantir segurança, continuidade e conforto nos deslocamentos diários.
Infraestruturas mal conservadas podem gerar pontos de risco, interromper trajetos, reduzir a atratividade do modo. Por isso, a manutenção deve ser entendida como parte estrutural da política cicloviária.
A manutenção envolve ações como:
• Conservação do pavimento, evitando buracos, desníveis, afundamentos e trincas;
• Limpeza regular, removendo resíduos, folhas, areia e obstáculos;
• Substituição ou reforço de segregadores e elementos de proteção;
• Revitalização da pintura e da sinalização horizontal;
• Verificação e manutenção das placas, totens e sinalização vertical;
• Poda de vegetação para manter visibilidade e evitar obstruções;
• Revisão de drenagem para evitar acúmulo de água e trechos escorregadios;
• Correção de pontos de conflito identificados por usuários ou auditorias técnicas.
Manter ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas e espaços compartilhados em boas condições é fundamental para consolidar a confiança de quem utiliza ciclos. Quando as redes são bem cuidadas, tornam-se mais seguras, visíveis e convidativas, o que incentiva mais pessoas a adotarem modos ativos no cotidiano.
A manutenção contínua é também uma sinalização clara de valorização das políticas de mobilidade ativa. Investir em infraestrutura é importante, mas garantir seu funcionamento pleno no longo prazo é o que realmente consolida cidades mais humanas, acessíveis e eficientes.

Conclusão
Investir em infraestrutura cicloviária é muito mais do que pintar faixas ou instalar segregadores. Trata-se de pensar uma rede completa, coerente com o desenho urbano, conectada às necessidades reais de deslocamento e capaz de promover segurança, conforto e eficiência para quem utiliza ciclos.
Quando ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas e espaços compartilhados são planejados dentro de uma lógica de rede com percursos lineares, seguros, coerentes, atrativos e confortáveis, o resultado é uma cidade que incentiva modos ativos, melhora a qualidade de vida e contribui para a construção de ambientes mais sustentáveis.


